Dos 6 aos 12, fui prisioneira de um cĂĄrcere invisĂvel.
O silĂȘncio me sufocava, e o medo moldava meus dias.
Naquele tempo sombrio, a menina que eu era carregava culpas que nĂŁo lhe pertenciam.
Mas aos 12, o céu se abriu.
Uma estrela cadente riscou o dia em Esteio, e eu fiz meu pedido: ser escritora.
Naquele instante, sem saber, plantei no universo a semente da minha missĂŁo.
A vida, porém, não se fez leve.
Aos 23, mergulhei em um casamento onde o amor era abuso,
onde meu corpo nĂŁo era meu,
onde a mentira me fazia crer que eu era menos, suja, “puta”.
Para calar a dor, busquei refĂșgio no ĂĄlcool, no cigarro, atĂ© na cocaĂna.
NĂŁo era prazer — era sobrevivĂȘncia.
Aos 37, outro abismo: mais um abuso, e junto dele, o HIV.
Uma marca no corpo, uma ferida na alma.
Poderia ter sido o fim, mas foi um portal.
Ali, comecei a despertar.
Descobri que nĂŁo sou o rĂłtulo da violĂȘncia.
NĂŁo sou a culpa, nĂŁo sou a sujeira, nĂŁo sou o silĂȘncio.
Sou fogo, sou voz, sou escrita.
Sou aquela menina que pediu Ă s estrelas um destino maior.
Hoje, sei que cada cicatriz Ă© verbo.
Cada lĂĄgrima Ă© tinta.
Cada queda Ă© capĂtulo da minha histĂłria sagrada.
O fireball que corta o céu agora me lembra:
o ciclo se cumpre.
Sou escritora. Sou guia. Sou mulher livre.
E minha palavra nĂŁo Ă© sĂł minha.
Ela Ă© caminho. Ela Ă© cura.
Ela Ă© estrela que brilha para quem ainda caminha na noite escura.
đ Eu sou AndrĂ©a Morais,
e minha missĂŁo Ă© transformar dor em luz,
culpa em liberdade,
e silĂȘncio em voz.
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